por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 16.12.2023

Toda a nossa cultura está construída em cima do otimismo judaico-cristão. O passado representa o mal, o presente a redenção e o futuro a salvação, escreveu o filósofo Umberto Galimberti. Acontece que a vida não é bem assim, menos ainda o futuro das nações. A evolução não está garantida, o retrocesso e o decrescimento são ameaças muito reais. Quem imaginaria que a robusta Argentina, rica em matérias-primas e saber acumulado, se transformaria num Estado quase falhado? E em sentido contrário, por que motivo o Botsuana se converteu num dos países de crescimento mais rápido do mundo, enquanto outros, como o Zimbabué, Congo e Serra Leoa entraram numa espiral de violência e pobreza? A resposta é simples e muito visível: a estabilidade das instituições tem sido determinante para o progresso.

A entrada da troika em Portugal, no início da década passada, deveria ter sido recebida com um sério aviso à navegação. Tudo pode implodir. Anos e anos de erros económicos levaram o país à falência, centenas e centenas de empresas fecharam e o desemprego esteve próximo dos 20 por cento. O facto de pertencermos à União Europeia permitiu-nos encontrar uma via de financiamento e sobrevivência in extremis que nos trouxe até aos dias de hoje. A pergunta que me faço é evidente: e como estamos hoje? Estamos numa trajetória ascendente? As políticas públicas protegem e incentivam o investimento? As nossas instituições democráticas revelam-se robustas?

Haverá quem julgue que o copo está meio cheio, mas receio que não seja bem assim. Tendo em conta a nossa pequena dimensão, não são precisos muitos anos de erros, como vimos no início da década passada, para deitar tudo a perder. Como escreveram Daron Acemoglu e James Robinson (“Porque Falham as Nações”) são as instituições políticas e económicas que definem o êxito económico ou a falta dele e, pelo que vejo, o nosso país continua a acreditar que a riqueza cai mais ou menos do céu, que a produtividade não é um indicador relevante – ele é ignorado ano após ano – e que, com mais ou menos soluços, estamos garantidos rumo ao sucesso.

Esta falsa sensação de segurança tem de ser combatida e corrigida. O próximo governo tem de ser mais exigente com ele próprio e com o país, não pode apenas governar para o dia seguinte, refém das mais prosaicas e inúteis polémicas. Tem de pensar, programar e agir de forma estruturada. Não pode também ser mais papista do que o Papa, decidindo, por exemplo, que a obrigação de construirmos uma economia mais ecológica implique desmantelar tudo já e em força, sem contabilizar prejuízos e sem uma estratégia de crescimento. O que fizemos com a última central de carvão reflete-se no bolso e na vida dos portugueses – e este é apenas um exemplo desta sofreguidão irrefletida.

Há até uma corrente de pensamento que defende o “decrescimento”. Eu tenho a convicção de que a moderação faça sentido aqui e acolá. Mas a falta de noção da nossa fragilidade impulsiona teorias que nos podem levar mesmo a bater novamente na parede. Como sabemos, não há almoços grátis.