Portugal é ainda o país da União Europeia com a mais alta percentagem de baixas habilitações

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 09.09.2017

 

“É já um lugar comum dizer-se que a geração que está a chegar ao mercado de trabalho é a mais qualificada de sempre em Portugal.

Podemos discutir se é a geração mais preparada para as exigências desse mercado. A este respeito, penso que há ainda muito a fazer para que a formação inicial desenvolva plenamente competências básicas para a vida e, em particular, se adeque às novas necessidades das empresas.

Mas, de facto, os jovens portugueses entram hoje no mercado de trabalho com um nível de escolaridade muito superior ao das gerações anteriores.

Segundo dados do Eurostat, em 2006, a percentagem da população empregada com menos de 24 anos com baixas habilitações (menos do que o terceiro ciclo do ensino básico) superava os 70%. Apenas 10 anos depois, esta percentagem reduziu-se para 28% e compara bem com os padrões europeus.

No entanto, considerando a totalidade da população empregada, Portugal é ainda o país da União Europeia com a mais alta percentagem de baixas habilitações.

Isto significa que o mais sério handicap estrutural que refreia a produtividade das nossas empresas – o défice na qualificação dos recursos humanos – está longe de ser ultrapassado e que não nos podemos limitar a esperar pelas novas gerações.

Esta realidade não se compadece com os escassos recursos que, no Portugal 2020, têm sido destinadas à formação profissional.

Retirar todas as consequências desta realidade implica que, no domínio das qualificações, a prioridade seja colocada na formação de ativos e no desenvolvimento de competências através da aprendizagem ao longo da vida. Exige-se também a requalificação profissional, quando necessário, dado que muitas profissões foram e serão extintas e outras profundamente reformuladas.

As recentes propostas da CIP visam precisamente, neste domínio, assegurar uma resposta à cada vez maior necessidade das empresas em qualificar os seus ativos e em recrutar novos colaboradores que detenham um perfil de competências adequado.

A absorção pelo mercado do trabalho de um elevado número de desempregados exige também um esforço importante de qualificação e requalificação, para que se ajustem às novas oportunidades de emprego que surgem e para evitar que sejam excluídos do mercado de trabalho, por obsolescência das competências que adquiriram anteriormente.

Como proposta para o Orçamento do Estado para 2018, retenho, por isso, a dedutibilidade, em sede de IRC, de 150% dos investimentos em requalificação devidamente comprovados e confirmados pelos formandos.

Felizmente, existem em Portugal ótimos centros de formação profissional, bom como escolas profissionais com vocação empresarial. O problema é que têm encontrado sérias dificuldades no seu financiamento.

Exige-se, por isso, que esses centros sejam dotados das verbas necessárias para que desenvolvam todo o seu potencial, permitindo que inovem e disponibilizem programas de formação de ativos que respondam às necessidades das empresas.”