por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 02.12.2023

As incertezas políticas e geopolíticas estão bem à nossa frente. Afetam o lado externo, como se vê pelas exportações, e ameaçam o lado interno – o consumo interno resistiu no terceiro trimestre, mas o desemprego aumentou, ainda que muito ligeiramente, o que é um mau sinal. Perante o avolumar dos problemas e riscos, o que fazer? Há sempre um ponto de partida e, neste caso, parece-me que o caminho passa por sermos muito mais exigentes com os políticos no caminho até às eleições.
Temos de exigir mais e melhores respostas aos partidos e aos seus líderes. Eles têm de nos dizer a verdade sobre as suas intenções, em vez de espalhar demagogia e eleitoralismo que depois rapidamente se desfaz como um castelo de areia. Não é aceitável que os eleitores sejam tratados com paternalismo. É fundamental que todos entendam o contexto realmente espinhoso que enfrentamos e o que realmente pode e deve ser feito. É essencial afastar de vez a frágil alquimia eleitoral. Palavras e mais palavras vazias.

Como todos já perceberam, o cenário macroeconómico é muito complexo, há uma fortíssima concorrência global e o nosso país arrasta há demasiados anos graves problemas – problemas que, convém deixar claro, não são todos iguais em profundidade, em urgência e na forma de os começar a resolver. É fundamental, por isso, não confundir paliativos com a soluções efetivas e duradouras. A política sofre do vírus do imediatismo, uma grave obsessão com o curtíssimo prazo e com a notícia do que vai sair amanhã nos media. A esta patologia junta uma enorme tendência para privilegiar demasiadas vezes os interesses do respetivo partido e das suas clientelas. É impossível governar bem assim. O caminho mais fácil raramente traz bons resultados para a comunidade.

Claro, atrair pessoas competentes e experientes para a política é cada vez mais difícil. O escrutínio a que os ministros e os secretários de Estado estão sujeitos vai muitas vezes para além do razoável. A remuneração também espelha um país empobrecido que não compreende como é difícil e “empenhativo” governar. Exigimos tudo, não queremos dar quase nada. Aqui está uma discussão que nenhum partido está disposto a ter com medo de perder votos. É por isso que somos nós, os eleitores, que temos de o exigir. Nunca como hoje o envolvimento e o empenho da população foi tão importante. Façamos, então, a nossa parte. Os partidos são como são até que nós, os cidadãos, os façamos mudar, sobrepondo o compromisso do país ao mero interesse do partido.