por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 13.01.2024
As dificuldades económicas que um número crescente de portugueses enfrenta são hoje bem visíveis, sendo precisas políticas públicas para inverter os ventos contrários que esmagam o crescimento e põem em risco a coesão social. Talvez as eleições legislativas pudessem afirmar-se como decisivo fator de mudança, levando os candidatos, da esquerda à direita, a apresentar e depois concretizar projetos de mudança ambiciosos para tentar captar o interesse e o voto dos eleitores.
Será que os eleitores respondem a este incentivo que descrevi? Será que procuram e premeiam as propostas políticas que se proponham mudar o país? A realidade é por definição fluida e inesperada, ainda assim, salta à vista um facto indesmentível: a nossa sociedade apresenta um índice de envelhecimento que não para de crescer de ano para ano. Vejamos: em 2001 tínhamos 100 jovens por 102 idosos, no ano passado, os idosos passaram para 136 e, em 2060, serão 300 por cada 100 jovens. Os maiores de 65 anos serão, nessa altura, 35% da população total, já a população com menos de 15 anos diminuirá até 12%.
Os mais velhos são por natureza mais desconfiados e resistentes à mudança. Olham para a sua situação e preferem que não haja grandes alterações, mesmo quando a realidade já não é indubitavelmente positiva. O seu estímulo predominante vai no sentido de não perderem o pouco que têm em vez de acreditarem na possibilidade de ganhar. Ora bem, se o peso deste escalão etário é não apenas maioritário no universo de eleitores como, além disso, tem ainda a força de ser menos propenso a abster-se de votar – são os jovens que, em regra, menos votam -, então as forças em jogo ficam ainda mais desequilibradas. Os projetos políticos baseados na mudança sucumbem perante o forte apelo do statu quo.
O peso dos eleitores com mais de 65 anos, que votam mais do que os outros grupos etários, poderá aumentar ainda mais este ano em caso de uma taxa de abstenção elevada. Atualmente, fruto sobretudo de uma linguagem sedutora e de uma ação que os mantêm cativos do Estado para sobreviver, estes eleitores são uma vantagem para algumas forças políticas em detrimento de outras que ainda não conseguiram explicar a essa significativa franja eleitoral que arriscamos mais quando procuramos garantir que não perdemos do que quando procuramos uma hipótese de ganhar.
Este apelo das nossas lideranças políticas – construído ao longo dos anos -, estimulando os portugueses a preservar o poucochinho que têm, permite compreender a opção de quem dificilmente votará em quem não garanta a manutenção do que se tem com o pavor de não se ter coisa nenhuma.
Por tudo isto, é imperioso que todas as forças políticas exortem os portugueses a darem espaço a uma ambição mais coletiva, com expressão num país mais exigente. Bem sei que este país hoje não tem sido para a realização dos sonhos dos mais novos – mas tem de ser, tem mesmo de ser. A viabilidade de Portugal depende disso.