por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 12.09.2025

Educação e dinâmica económica: as duas faces da mesma moeda

Regresso aos resultados do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, desta feita para sublinhar que, concluída a 2.ª fase, 38 cursos continuam sem qualquer vaga preenchida. No total, não foram ocupadas 4.009 vagas. A maioria dos cursos sem procura são lecionados em politécnicos do interior do país, embora também tenha havido ausência total de candidatos em cursos de universidades: Madeira, Algarve e Beira Interior.

Sabíamos já, pelos resultados da 1.ª fase, que este ano houve uma diminuição de novos estudantes nas Instituições de Ensino Superior (IES) dos territórios de baixa densidade. Agora, a 2.ª fase reitera a discrepância na procura entre o litoral e o interior do país. E há ainda uma outra décalage: as universidades registaram menos vagas por ocupar do que os politécnicos, independentemente da localização geográfica.

Nos cursos com falta de candidatos predominam as áreas de engenharia, tanto nos politécnicos como nas universidades. Ainda assim, as engenharias são a área de estudo que mais vagas abriu e são também uma das áreas com mais candidatos a escolhê-la como primeira opção. Por isso, algumas engenharias estão entre os cursos com as mais altas notas de entrada.

Esta é uma das poucas boas notícias do concurso: os cursos com as notas de ingresso mais elevadas correspondem a necessidades do tecido económico e social português. As áreas STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) estão, de facto, a cativar mais e melhores estudantes. Para além da habitual procura dos cursos de Medicina, áreas tecnológicas como Engenharia Aeroespacial, Engenharia e Gestão Industrial, Inteligência Artificial e Ciência de Dados ou Bioengenharia conhecem cada vez maior atratividade. Ora, o capital humano nestas áreas de ponta é fundamental para a desejada mudança do perfil de especialização da nossa economia.

Tudo isto para dizer que o ensino superior em Portugal é eminentemente dual: interior vs litoral, politécnicos vs universidades. Ora, menos estudantes no interior significa menor valor económico e social nos territórios de baixa densidade, agravando os problemas de coesão territorial. Acresce que, se as IES de Lisboa e Porto – duas cidades com custo de vida elevado – registam maior procura, então são sobretudo os estudantes da classe média quem acede ao ensino superior e isso favorece a pobreza intergeracional. Por fim, o ensino politécnico é orientado para a aquisição de competências técnicas e profissionais, pelo que uma menor procura das suas instituições pode penalizar as empresas.

Importa, pois, acabar com esta dualidade no ensino superior. Isso implica, a meu ver, combater o abandono escolar precoce, promover a massificação do ensino superior, aumentar os apoios sociais aos estudantes carenciados e discriminar positivamente as IES do interior. Mas implica, sobretudo, uma estratégia para o ensino superior mais alinhada com a dinâmica económica e a evolução tecnológica. Temos de aumentar o número de cursos, estudantes e projetos de I&D+i em programas de estudo que desenvolvem competências e criam talento em áreas críticas para o crescimento, competitividade e internacionalização das empresas no atual contexto de transição digital.

Sendo certo que as empresas, por seu turno, terão de ter melhores condições e estar mais bem capacitadas para absorver capital humano altamente especializado. Caso contrário, vamos continuar a exportar talento.