por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 28.03.2025
Este não é, seguramente, o melhor momento para a realização de eleições legislativas em Portugal. O país tem demasiadas fragilidades, carências e atrasos no seu desenvolvimento para se dar ao luxo de entrar numa dinâmica inexorável de miniciclos políticos. Acresce que a conturbada conjuntura internacional exige capacidade de leitura dos acontecimentos e de reação aos seus efeitos, algo só possível com estabilidade governativa.
Com legislaturas efémeras como a que agora termina, dificilmente o país será capaz de ter uma visão, de assumir uma estratégia e de desenvolver políticas de médio/longo prazo. Da mesma forma que se afigura complicado pôr em prática reformas estruturais ou executar e atrair investimentos que tenham um efeito de arrastamento sobre a economia.
Mas, aqui chegados, só nos resta aproveitar as próximas eleições para encontrar uma solução governativa estável e debater, de forma construtiva, o futuro do país. Sobre este último ponto, parece-me crucial colocar a economia no centro do debate político. Se passarmos os próximos dois meses a discutir questões laterais ao interesse nacional, vamos perder uma boa oportunidade de conhecer o pensamento dos partidos para Portugal e para a sua economia.
Num debate eleitoral centrado na economia, as empresas devem estar presentes com a suas ideias e propostas. Sem um tecido empresarial dinâmico e competitivo, o país não cria valor, emprego e inovação – três fatores que implicam diretamente com o desenvolvimento socioeconómico e a qualidade de vida. Por conseguinte, as empresas têm de ser envolvidas no debate eleitoral em torno de uma estratégia que nos permita, nos próximos anos, superar as nossas debilidades e acelerar a convergência com a Europa.
Esse envolvimento das empresas pode passar, a meu ver, pela definição de uma Agenda Económica, que se sobreponha a objetivos de mera tática política e à disputa de interesses exclusivamente partidários. Nessa Agenda Económica, seriam elencadas as ideias e propostas das empresas tendo em vista o aumento da produtividade e da competitividade, o investimento estratégico na inovação e na qualificação, a redução da burocracia e da carga fiscal, a aceleração da transição digital e energética ou as potencialidades da nossa indústria de defesa.
Todas estas questões são cruciais para o crescimento do país e, por isso, devem dominar o debate eleitoral que vai ter início. Os eleitores ficariam certamente mais bem elucidados se, a partir das propostas e ideias das empresas, os partidos do arco da governação tornassem claras as suas posições e objetivos para a economia portuguesa. Com uma Agenda Económica, as principais forças partidárias teriam mais dificuldade em fugir ao esclarecimento do eleitorado sobre as suas prioridades, metas e estratégias de desenvolvimento.
O crescimento que Portugal tem registado nestes últimos anos é, naturalmente, de louvar. Mas, se retirarmos o efeito PRR, o país não estaria a crescer acima da média europeia. Acresce que a nossa expansão económica recente dependeu muito do turismo, do consumo e do emprego, fatores muito vulneráveis a choques externos. Parece-me, por isso, que o nosso crescimento é pouco sustentável a prazo sem reformas transformadoras e investimentos ambiciosos.
Devemos, portanto, fazer destas eleições um verdadeiro momento de reflexão e debate sobre as grandes opções económicas para o país, de modo que se possa chegar a linhas de entendimento e consensos mínimos para o rumo da nossa economia.

