por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 23.05.2025

Passado o assombro, é tempo de refletir sobre o panorama político saído das eleições e encontrar uma solução de governabilidade. A AD reforçou os seus votos e mandatos, mas ficou longe da maioria absoluta e sem parceiro óbvio para governar. O curto crescimento da IL inviabiliza uma coligação governativa e o desnorte do PS não permite, para já, saber qual será a postura do partido: ser o interlocutor preferencial do futuro governo ou acantonar-se numa oposição irredutível, deixando a AD à mercê dos humores do Chega.

Aqui chegados, é de esperar que o Presidente da República exerça o seu magistério de influência, “trazendo os adultos para a sala”. Ou seja, que Marcelo Rebelo de Sousa convença os partidos, sobretudo os institucionalistas, a criarem condições para uma solução governativa estável e duradoura. De resto, parece-me que os partidos institucionalistas têm muito mais a ganhar se viabilizarem o governo, evitando a perpetuação da instabilidade. A polarização, crispação, volubilidade e incerteza políticas só favorecem o partido insurgente.

Todos os partidos, sem exceção, têm a responsabilidade de garantir a governabilidade do país, num momento histórico particularmente delicado quer para Portugal, que não pode deixar estiolar o regime, quer para o mundo, que fervilha com o escalar da tensão geopolítica. Por isso, esta é a hora da moderação política, do pragmatismo estratégico e do instinto de sobrevivência democrático. Portugal precisa de partidos patriotas, moderados, reformistas, responsáveis, comprometidos. Nos tempos que correm, a moderação não está na moda mas a exaltação imprudente não é opção. Se houver a tentação de tirar desforço ou de gerar entropia, a democracia portuguesa poderá ser arrastada no vórtice da instabilidade e ficar irremediavelmente enredada numa dinâmica de miniciclos políticos.

Neste cenário, o PS tem, naturalmente, uma responsabilidade acrescida. Trata-se de um partido fundador do regime, que defende a democracia liberal, os valores europeus e a economia social de mercado. Apesar de estar na iminência de perder o estatuto de líder da oposição, é à partida o interlocutor preferencial para entendimentos com o futuro governo. Mas, para tal, o PS tem de se reencontrar com a sua história e fazer prevalecer o sentido de Estado, a humildade democrática e o dever patriótico sobre eventuais taticismos. Sendo que, do lado da AD, a atitude deve ser igualmente de abertura política e diálogo construtivo, sem tentações revanchistas. De resto, como tem sido defendido pelo Primeiro-Ministro reeleito Luís Montenegro, numa postura de efetiva maturidade democrática sem altivez, arrogância ou sobranceria, não obstante o resultado eleitoral da AD que suplanta toda a esquerda junta.

Mas a estabilidade política não pode ser um fim em si mesmo. Como disse Passos Coelho, “é preciso que exista verdadeiramente um espírito reformista que possa estar ao serviço dessa estabilidade.” Uma vez garantidas as condições indispensáveis a uma solução governativa estável e duradoura, importa avançar com reformas estruturais que promovam desenvolvimento social e crescimento económico. Tanto mais que os próximos tempos não se auguram fáceis para a economia europeia, não sendo a portuguesa exceção. Mesmo ignorando como vai acabar a disputa tarifária com os EUA, a Comissão Europeia reviu em baixa o crescimento do país para este ano, que deverá quedar-se em 1,8%, e prevê um excedente de apenas 0,1%.

Face a estas previsões e às debilidades estruturais da nossa economia, a estabilidade política é fundamental para a adoção de políticas que estimulem e atraiam investimento, talento e inovação – condições essenciais para o reforço da produtividade e competitividade. A moderação política afigura-se, pois, como o único caminho para governo e oposição trilharem, de forma quer a criar um antidoto contra o populismo e a salvaguardar a democracia, quer a promover a transformação social e económica do país.