por António Saraiva, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 08.01.2022
Passaram 20 anos desde que o euro começou a circular fisicamente em 12 Estados-membros da União Europeia. Entretanto, outros sete países aderiram à moeda única.
A propósito deste aniversário, ainda é possível observar, entre nós, a divergência de opiniões sobre se a opção por integrar a moeda única foi ou não correta, se o euro foi vantajoso ou prejudicial para Portugal.
Alguns, apontam o fraco desempenho da economia portuguesa nos últimos 20 anos como prova de que o enquadramento proporcionado pela moeda única foi nocivo para a nossa economia.
De facto, entre 1999 e 2019, Portugal foi o terceiro país da União Europeia que menos cresceu (apenas à frente da Grécia e da Itália). Contudo, os três que mais cresceram neste mesmo período ou foram, como Portugal, fundadores do euro (caso da Irlanda) ou aderiram depois à moeda única (Malta e Lituânia).
Isto significa que, dentro da área do euro, são possíveis excelentes desempenhos económicos.
Podemos também verificar que, nos últimos 20 anos, todos os países da União Europeia do antigo bloco de leste, que eram mais pobres que Portugal, convergiram com a média europeia. Uns tendo aderido ao euro, outros ficando de fora. Com ou sem euro, a convergência é possível.
Estou certo de que fora do euro, com a possibilidade de manipular a taxa de câmbio, mas com juros substancialmente mais altos, a evolução da economia portuguesa teria sido bem diferente da que vivemos. Duvido que tivéssemos feito melhor, em termos crescimento económico. Duvido também que tivéssemos enfrentado a crise financeira de 2008 com mais sucesso. Seríamos hoje uma economia mais fechada. Dopar a competitividade através de desvalorizações cambiais nunca demonstrou ser uma via eficaz, no longo prazo, para convergir para patamares mais elevados de desenvolvimento económico.
A questão fundamental é a de como, no enquadramento da área do euro, conseguir estimular o crescimento económico. No passado, falhámos.
Portugal levou demasiado tempo até compreender que a partilha de uma moeda única implicava uma disciplina a que não estávamos habituados, tanto em termos orçamentais como na atuação do sistema financeiro ou nas negociações salariais.
Não fomos capazes de fazer reverter os benefícios da abundância de capital a baixo custo em favor do investimento produtivo modernizador que nos permitisse aumentar a capacidade de oferta de bens e serviços nos mercados externos. Pelo contrário, o consumo (público e privado) explodiu e o investimento foi canalizado para setores abrigados da concorrência internacional. A competitividade dos produtores de bens e serviços transacionáveis foi fortemente penalizada por subidas de custos excessivas face aos respetivos ganhos de produtividade.
As consequências fizeram-se sentir na crise de 2011/2014.
Precisamos, agora, no rescaldo de nova crise, de uma estratégia económica de médio prazo, ambiciosa, mas compatível com o enquadramento da área do euro.