por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 19.12.2025
«Tão doce quanto um pastel de nata». Foi assim que a The Economist descreveu a economia portuguesa, que lidera o ranking anual da revista em 2025. Portugal sucedeu a Espanha como «Economia do Ano», numa classificação que integra os 36 países mais ricos do mundo. A distinção é justificada pelo bom desempenho do nosso País em cinco indicadores: inflação, desvio da inflação, PIB, emprego e bolsa de valores. Entre os fatores que impulsionaram o crescimento económico, a publicação britânica destaca o dinamismo do turismo e a crescente atração de residentes estrangeiros.
Obviamente que a distinção da The Economist é excelente para a reputação internacional do País. Importa lembrar que, ainda há poucos anos, Portugal integrava o infame acrónimo PIGS por ser visto como economicamente problemático. Isto sem esquecer o também recente resgate internacional, que muito degradou a imagem da economia portuguesa aos olhos do mundo. Neste sentido, os elogios da revista têm um inegável efeito reputacional, tal como a estabilização do rating na nota «A», e servem para insuflar a autoestima do país.
Dito isto, convém saber interpretar os indicadores económicos que motivaram a avaliação da The Economist e ser mais exigentes e ambiciosos no que desejamos para o País. É verdade que temos um mercado de trabalho muito dinâmico, quase com pleno emprego. É verdade que a inflação está controlada, havendo uma melhoria do poder de compra com a desaceleração da subida de preços. É verdade que estamos consistentemente a crescer mais do que os nossos parceiros europeus, devido sobretudo ao investimento (em particular do PRR) e à recuperação do consumo. É verdade que temos empresas de excelência em vários setores, capazes de competir com as melhores do mundo na sua especialidade.
Mas falta um pouco mais de canela no pastel de nata para lhe espevitar o sabor. A economia portuguesa continua a ser penalizada pelos elevados custos de contexto, por um sistema fiscal pesado, complexo e instável, por uma legislação laboral desatualizada, por atrasos na qualificação, inovação e tecnologia, por uma burocracia asfixiante e por um crónico problema de produtividade. Todos estes obstáculos impedem que o país cresça em conformidade com o seu potencial, como tem sido sublinhado por organizações internacionais.
Portugal continua a crescer a um ritmo insuficiente para superar os atrasos estruturais, abraçar com êxito os desafios do século XXI, convergir com o resto da Europa e progredir sustentadamente na paridade de poder de compra. Sobre este último ponto, interessa ressalvar que, com o nível de crescimento atual, a economia portuguesa não vai conseguir pagar, no curto/médio prazo, um salário mínimo de 1.600 euros e um salário médio de 3.000 euros. Saudamos a ambição do Governo, mas, primeiro, há que criar condições económicas para tão significativo aumento salarial…
Isto leva-nos ao eterno gambozino da política portuguesa: as reformas estruturais. Toda a gente fala em reformas, mas ninguém as vê ou sente. Ora, sem transformações profundas no mercado laboral, na Administração Pública, no sistema produtivo ou na fiscalidade, o pastel de nata será sempre pequeno demais para saciar os portugueses. Temos de ser mais ambiciosos nas taxas de crescimento, sob pena de nunca abandonarmos a pequena mediocridade – o “viver habitualmente” que nos ficou do Estado Novo.
