por Rafael Alves Rocha, Diretor-geral da CIP
Publicado no Expresso a 20.11.2025

São necessários investimentos estratégicos na formação profissional, atração de talento, transição digital e inovação

A produtividade é um problema crónico da economia portuguesa e um dos fatores que mais prejudica a competitividade do país, designadamente face aos seus parceiros europeus.

Para se ter uma ideia, a produtividade por cada hora laboral em Portugal representa apenas 65% da média da UE. Isto exige um grande esforço de convergência em relação a países como a Alemanha, França, Países Baixos ou Irlanda.

Importa ressalvar que o nosso défice de produtividade não decorre do absentismo ou indolência dos trabalhadores. Em Portugal, até se trabalha mais horas do que na maioria dos países europeus. A fraca produtividade resulta, sim, de uma combinação de fatores estruturais: baixa qualificação da força de trabalho, insuficiente incorporação de tecnologia nas cadeias de valor, reduzido investimento em inovação, falta de escala das empresas, problemas de gestão e eficiência e, claro, envelhecimento populacional.

Perante este cenário, são necessários investimentos estratégicos na formação profissional, atração de talento, transição digital e inovação. Uma ação integrada nestas áreas trará, com maior rapidez e efetividade, ganhos de produtividade ao tecido empresarial.

Se queremos uma economia mais competitiva e por isso mais capaz de gerar riqueza, emprego e bons salários, o aumento da produtividade tem de figurar entre os grandes desígnios nacionais.

A formação profissional parece ser um conceito do passado e estar ausente da agenda da economia portuguesa. Mas, na verdade, a capacitação das empresas mantém-se como objetivo prioritário. Qualificar é uma via eficaz de especialização do capital humano em função das necessidades e metas das empresas. São assim desenvolvidas as competências necessárias a uma maior produtividade, fator decisivo na criação de valor para o mercado sem agravamento do capital investido ou dos custos do trabalho.

Devem, pois, ser criadas condições (legislativas, fiscais, financeiras ou outras) para que as empresas promovam mais ações de qualificação em contexto laboral. Além disso, o país tem de formar, fixar e atrair recursos humanos altamente especializados.

O talento garante à partida maior produtividade e, ao mesmo tempo, capacita as empresas com as competências indispensáveis à digitalização e inovação.

A digitalização, por seu turno, possibilita ganhos de eficiência interna, que se traduzem num aumento da produtividade. Já a inovação, em especial nos processos, otimiza a atividade interna e potencia o desempenho laboral, com impacto nos resultados das empresas. Donde, é preocupante a escassez de doutorados no tecido empresarial português (menos de 10% contra 40% na UE).

Daqui se conclui pela necessidade de investir fortemente na capacitação das empresas, nomeadamente recorrendo a incentivos universitários como, por exemplo, o programa Nova SBE VOICE Leadership.

Há que melhorar a performance laboral e, simultaneamente, acelerar a digitalização e o desenvolvimento da inovação. Caso contrário, muitas empresas não vão conseguir criar massa crítica que lhes permita aumentar a produtividade e, deste modo, serem mais competitivas numa economia cada vez mais inovadora.