A CIP – Confederação Empresarial de Portugal, em parceria com a EY e a APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis, promoveu, no dia 21 de maio de 2025, no ALLO, em Lisboa, o evento «EU Clean Industrial Deal: Uma Oportunidade para (Re-)industrializar Portugal?». A iniciativa reuniu representantes de entidades públicas, decisores políticos, líderes empresariais e especialistas do setor industrial, num debate centrado no futuro da indústria nacional à luz do novo pacto europeu.

Nuno Moreira, CEO da Dourogás, foi o representante da CIP enquanto Presidente do seu Conselho de Energia e participou como orador no painel «Poderá o ‘EU Clean Industrial Deal’ constituir uma alavanca para reindustrializar Portugal?». Na sua intervenção, alertou para o risco de uma transição energética que desconsidere a base produtiva europeia e defendeu que a descarbonização só será sustentável se for acompanhada por uma reindustrialização eficaz. Sublinhou a importância de garantir energia a preços competitivos, previsibilidade regulatória, celeridade nos licenciamentos e acesso a talento qualificado. Criticou a burocracia e encargos como o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) sobre instalações renováveis, apelando a uma abordagem mais ágil e coordenada, inspirada em boas práticas de países como Espanha. Realçou ainda que as empresas procuram mercados, produtos e clientes, mais do que subsídios, apontando como exemplo as oportunidades nos materiais críticos, no hidrogénio e na eletrificação.

O painel contou também com a participação de Pedro Amaral Jorge, CEO da APREN, Luís Delgado, Administrador da Bondalti, e Luís Seca, Administrador do INESC TEC.

Pedro Amaral Jorge destacou a importância da autonomia energética baseada em fontes renováveis, defendendo um modelo europeu que conjugue eletrificação, energias limpas e competitividade industrial. Referiu a falta de capital de risco como uma fragilidade da economia europeia e sublinhou a necessidade de uma Administração Pública mais simples, digital e célere, com políticas públicas que garantam previsibilidade e envolvam a indústria na definição de soluções, em especial nos domínios regulatório e fiscal.

Luís Delgado defendeu que o primeiro passo para responder aos desafios industriais é reconhecer a sua gravidade. Considerou positivo que o EU Clean Industrial Deal coloque a competitividade no centro da agenda e alertou para a impossibilidade de avançar na transição energética sem empresas industriais robustas. Apelou à definição de prioridades políticas claras, à redução do custo real da energia para a indústria e à centralização dos apoios a nível europeu, como forma de evitar distorções entre Estados-Membros. Chamou também a atenção para o impacto da concorrência da China, nomeadamente a sua sobrecapacidade industrial.

Luís Seca considerou o pacto europeu um verdadeiro «abre olhos» para a Europa, ao evidenciar a necessidade de simplificação e pragmatismo. Criticou os sobrecustos da energia e a complexidade regulatória, salientando que as empresas precisam de estabilidade política para investir. Referiu que, apesar das vantagens ibéricas no custo de produção de energia renovável, processos como as Zonas Tecnológicas Livres (ZTL) continuam a ser excessivamente rígidos. Destacou o potencial do cluster das baterias, sobretudo na reciclagem, e sublinhou a importância de acompanhar atentamente a evolução legislativa e regulamentar.

Na sessão de encerramento, Nuno Gonçalves, Vice-Presidente do IAPMEI, destacou o potencial estratégico do pacote financeiro da Comissão Europeia no âmbito do EU Clean Industrial Deal. Sublinhou os mecanismos de proteção contra práticas de concorrência desleal, como o dumping, e referiu que Portugal, com condições particularmente competitivas em energias renováveis, está bem posicionado para aproveitar os setores prioritários definidos a nível europeu. Alertou, contudo, para os desafios de coordenação entre os vários instrumentos em curso — como o PRR, o PT2030 e o próprio pacto industrial — e para a necessidade de acelerar os processos de licenciamento. Realçou ainda a importância do acesso ao capital e da diversificação de mercados externos, apontando a nova gestão do Banco Português de Fomento como uma oportunidade para reforçar o apoio ao redimensionamento do tecido empresarial nacional, através das agendas mobilizadoras e de inovação.