por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 27.07.2024

Angola e Portugal – dois povos com tanto em comum, oportunidades pela frente não faltam, mas aproveitar este potencial implica dar passos todos os dias, avançar, insistir, resistir aos ventos contrários. Nos últimos meses, vim duas vezes a este extraordinário país. Sempre que regresso a Luanda digo a mim mesmo que tenho de voltar mais vezes e ficar mais tempo.

A nossa é uma relação única, uma relação que exige presença e contacto permanentes. Este vínculo pede que estejamos mais vezes juntos, e é por isso que o encontro entre o primeiro-ministro Luís Montenegro e o presidente João Lourenço não foi um momento qualquer. Não se tratou apenas de mais um ato diplomático de valor simbólico. Esta semana de trabalho entre as delegações de Portugal e Angola confirma o potencial e, acima de tudo, demonstra que a vontade política e económica existe e é materializável.

Esta visita mostrou-nos que os líderes políticos querem realmente aprofundar as relações bilaterais e confirma ainda que os empresários dos nossos dois países estão não apenas alinhados… nós estamos prontos para uma nova fase que – de ambas as partes – aproveite ainda mais as oportunidades em detrimento dos meros e circunstanciais oportunismos. Uma nova fase que ajude a criar riqueza nas duas geografias. Estou, portanto, a falar de uma nova fase, a fase Angola/Portugal ou Portugal/Angola 2.0. A ordem é arbitrária e à escolha de cada um; estamos perante dois países livres e independentes que podem beneficiar muito desta relação cultural e social profunda que tem e pode – aliás, deve – juntar o elevador económico que, infelizmente, está vários passos atrás do que é suposto.

As oportunidades que é necessário criar começam por ser para as pessoas. A colaboração na área educativa – ensino secundário ou universitário -, já existe, mas pode subir para outro patamar. Deste lado, podemos dar um importante contributo, desde logo, facilitando a entrada dos estudantes angolanos e a atribuição de mais bolsas de estudo, mas também através de mais colaboração pedagógica e científica. Investir nesta área abre as portas ao novo ciclo que tanto falámos esta semana em Luanda.

Depois, é deixar os empresários e as empresas concretizar os seus negócios. Sejam elas grandes, médias ou pequenas empresas, esta diversificação continental traz benefícios a todos. Penso até que as PME podem ser uma força motriz importante neste diálogo comercial sempre virado para a frente. Para que isto aconteça, a política tem, no entanto, de alisar o terreno, assumindo este desígnio com determinação e ambição. É preciso desburocratizar incessantemente, porque o excesso de regras e bloqueios aumenta a distância geográfica e afasta as oportunidades. Num mundo tão competitivo, esta relação tem de ser privilegiada e cuidada. Finalmente, temos de nos colocar metas anuais e objetivas para as fazer acontecer. Não basta ir o sabor do vento: os atores políticos e económicos têm aqui muito a fazer. A CIP e a AIA (Associação Industrial de Angola) deram um passo firme neste sentido, assinámos um protocolo que dará frutos. Aqui, neste espaço, darei conta disso mesmo, conto que seja com boas notícias.