por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 09.12.2023

Os resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) deixaram Portugal alarmado – e ainda bem. Ao contrário dos números anteriores, o nosso país registou uma queda que se revelou mais acentuada do que a média da OCDE tanto em Matemática como em Leitura. O assunto é importante em vários domínios, especialmente para o nosso país, que tem feito avanços notáveis ao longo das últimas décadas, mas que anda sempre aos ziguezagues (também) na política educativa. Ora aplica critérios de avaliação mais exigentes, ora quer facilitar a vida aos estudantes.

Os alunos são os primeiros a sofrer, mas o país acaba por pagar a fatura através de profissionais que chegam ao mercado de trabalho mais impreparados. É certo que muitos recuperam, a fragilidade de conhecimentos não é uma sentença final, mas há sempre um custo que torna mais difícil o início de carreira. O objetivo da educação não é apenas preparar os jovens para o emprego, mas é necessário desenvolver as competências que lhes permitirão encontrar um emprego numa economia cada vez mais competitiva e num mundo onde o conhecimento é a chave. A economia precisa que todos sejam formados e bem formados.

O desempenho do sistema educativo é, pois, essencial, nomeadamente nos três domínios avaliados pelo estudo PISA: matemática, ciências e compreensão da leitura.

As estatísticas nacionais do sucesso educativo indicam que a taxa de retenção e desistência no total do 7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade apresentam um motivador valor de 4,5%, que tem sido apresentado como um grande sucesso do Sistema Educativo nos últimos anos. O PISA revela-nos agora que três em cada dez estudantes portugueses não sabem o mínimo de português, ciências e matemática. Estamos assim perante um Sistema Educativo incapaz de identificar e recuperar alunos que transitam no seu percurso escolar com falhas graves de aprendizagem.

A prioridade parece ser reconhecer o que está a correr mal e que não se trata apenas de uma questão de recursos. “Para muitos países da OCDE que gastam mais por aluno, não existe qualquer relação entre o investimento adicional e o desempenho dos alunos”, lê-se no estudo.

O facto de a matemática não ser obrigatória até ao 12.º ano é um erro capital. Estamos a educar pessoas que mal sabem fazer uma regra de três simples ou calcular uma simples percentagem. Queremos facilitar a vida aos alunos e acabamos por dificultar a vida ao país e aos próprios alunos que um dia serão profissionais. Também não faz sentido que haja menos exigência no Português para quem segue as áreas científicas no ensino secundário. Temos licenciados que falam e escrevem com erros e vocabulário limitado. O PISA, afinal, é um dos sinais de alarme.