por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 02.09.2023

O governo alemão foi esta semana para um retiro de dois dias focado nas medidas para impulsionar a economia. O motor desta reunião é a periclitante situação económica. O país entrou em recessão técnica no início do ano – dois trimestres consecutivos de contração do Produto Interno Bruto -, conseguiu escapar no último trimestre, mas a economia apenas deixou de recuar, agora encontra-se estagnada, o que é uma melhoria bastante pífia. Como se vê, as empresas alemãs merecem que o seu governo dê prioridade a esta agenda.

O momento é complexo para o motor da Europa, mas se formos realistas, a fase que atravessamos todos, incluindo Portugal, é de extrema vulnerabilidade. Os juros continuam a subir, tornando tudo cada vez mais difícil para todos, pessoas e empresas. A inflação ainda preocupa, sendo que a cura imposta pelo BCE corre o risco de ser tão destrutiva como a doença que nos atormenta. O preço do petróleo também mantém a tendência de subida devido aos cortes de produção que se têm verificado nos países da OPEC. Finalmente, a terrível guerra na Ucrânia não dá sinais de caminhar para um desfecho positivo, pelo contrário, o seu lastro de destruição continuará a desestabilizar o mundo e em particular a Europa. O fim não está minimamente à vista.

Nós, Portugal, o país mais ocidental da Europa, por vezes olhamos para estas circunstâncias como se não estivéssemos – ou não nos sentíssemos – em condições de fazer nada de substantivo para mudar ou influenciar o curso dos acontecimentos, especialmente as consequências a nível nacional. A guerra ultrapassa-nos e é um assunto da NATO onde pouco contamos. Os juros são competência do BCE. O petróleo é com a OPEC. E o resto, que é muito, é deixar andar. Reagir sempre foi a nossa escolha – em vez de agir e liderar.

Estou convencido de que esta auto-limitação, auto-satisfação e, no fim, auto-comiseração é uma escolha, embora passiva, que deve ser posta em causa e combatida com todo o arsenal existente. Estamos no arranque de setembro, temos quatro meses de grande intensidade pela frente até ao Natal, a que se seguem outros seis meses até ao próximo verão. Não podemos falhar. Deveríamos discutir as escolhas que se nos oferecem e as que temos o dever de provocar. Embora o governo tenha em primeiríssimo lugar a responsabilidade de pensar – e talvez repensar – as suas escolhas, por deter o poder legislativo e executivo, e desta forma definir o “playing field”, todos temos essa responsabilidade. A Confederação Empresarial de Portugal assume igualmente essa responsabilidade.

A nossa fragilidade económica e financeira é tão evidente que não carece de explicação. Perante isto, o que fazer? A CIP convida o governo a ouvir e discutir connosco as ideias que preparámos para sermos um Portugal mais próspero e com mais riqueza para todos. Na verdade, são as propostas de quem vive e enfrenta todos os dias a economia real que, antes de se expressar nos indicadores do INE e de outros bancos de dados, é sentida e antecipada no dia-a-dia das empresas que garantem o emprego e os impostos que permitem pagar a função social, e outras, do país.

O convite não é apenas para os ministros das tradicionais áreas económicas: Economia, Finanças e Trabalho. Tem como destinatário o governo inteiro, porque, como bem entendeu o executivo alemão, a economia e a vida das empresas está em tudo. Será um dia dedicado ao pensamento sobre o presente e o futuro. Não procuramos títulos e manchetes – queremos tão-só, assumindo a nossa responsabilidade de parceiro social, contribuir para o processo de decisão com informação real sobre a vida real. Um choque de realidade só pode fazer bem a todos.