A situação do país contrasta com a imagem e perspetivas tranquilizadoras que são transmitidas pelo Governo, que subestima a gravidade do momento.

Os recentes dados divulgados pelo Eurostat revelam que o PIB por habitante em Portugal, medido em paridade de poder de compra, caiu de 76% da média europeia, em 2020, para 74%, em 2021. Em 2000 este valor era de 85%. Desde então, os atuais 11 membros da União Europeia do antigo bloco de leste convergiram com a média europeia. Portugal divergiu e foi ultrapassado por seis desses países. Em 2021, foi a vez da Polónia e Hungria. A Roménia, presentemente a um ponto percentual de Portugal, será provavelmente o próximo.

A pandemia, com um impacto na economia portuguesa significativamente mais profundo, agravou a divergência de Portugal face à média europeia quase tanto quanto a crise de 2011/2014: cinco pontos percentuais, em dois anos, face a seis, em quatro anos.

As perspetivas de que o nível de atividade económica anterior à crise fosse atingido, em Portugal, em meados deste ano estão agora comprometidas, dado o impacto económico da guerra na Ucrânia.

A escalada nos preços do gás natural (e, por arrasto, da eletricidade), dos combustíveis, de matérias-primas industriais e agrícolas, a falta de fornecimentos, tomam proporções tais que inviabilizam a produção de muitas empresas. Algumas já suspenderam a atividade, outras reduzem-na severamente.

Esta situação contrasta com a imagem e as perspetivas tranquilizadoras que nos são transmitidas pelo Governo, que subestima claramente a gravidade do momento que atravessamos.

São necessárias medidas decisivas e urgentes para travar o alastramento da crise e conter uma espiral inflacionista que a tornaria mais profunda e mais duradoura. Medidas que tardam, enquanto as ameaças se vão avolumando e transformando em realidade.

A margem de manobra orçamental dada pela forte redução do défice público alcançada em 2021 deve ser utilizada para acorrer aos riscos que ensombram a economia portuguesa. Sobretudo quando observamos que tal redução foi conseguida à custa de um novo agravamento da carga fiscal sobre a economia para 35,6% do PIB, um máximo histórico superior em 1,2 pontos percentuais ao valor registado em 2015, após o final do Programa de Ajustamento.

A CIP apela ao Governo que agora tomou posse que salvaguarde o futuro das empresas e da economia portuguesa e acautele as condições para o seu regular funcionamento. É o tecido económico, a competitividade do país e a estabilização do mercado de trabalho que está em causa.