Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 11.08.2018

Defendo para a economia portuguesa uma estratégia que promova uma reafectação de recursos para atividades produtoras de bens e serviços transacionáveis, que permitam aumentar as exportações ou substituir importações e que incorporem um elevado valor acrescentado nacional.

Consequentemente, no seu conjunto, essas atividades deverão aumentar o seu peso na estrutura produtiva.

No entanto, quando me perguntam quais os setores “de futuro”, com maior potencial de crescimento, respondo que não sei e que espero que nenhum governo tenha a veleidade de os definir, a priori.

Há, evidentemente, setores mais dinâmicos, enquanto outros perdem algum protagonismo, mas precisamente nestes últimos encontramos muitas empresas que conseguem reposicionar-se nos mercados externos, aumentando o valor acrescentado e incorporando mais tecnologia. Não são os setores, em si, que se classificam como muito ou pouco competitivos, ou com maior ou menor potencial, mas as empresas que os integram.

Por isso, nenhum setor deverá ser excluído da aposta de crescimento orientado para o exterior.

O investimento que necessitamos tem de ser sectorialmente diversificado, contribuindo assim para o fortalecimento da economia, e para uma menor vulnerabilidade face a choques que afetem especificamente este ou aquele setor.

E, da mesma forma que a diversificação geográfica das exportações é necessária para reduzir a dependência de um conjunto limitado de destinos, mas não implica o abandono dos nossos mercados mais tradicionais, também a diversificação setorial do investimento não significa prejuízo desta ou daquela atividade económica.

É nesta perspetiva que devemos olhar para o contributo expressivo que o setor do Turismo tem dado para o crescimento económico em Portugal, e em especial para o aumento das exportações. Nos últimos 12 meses, mais de um terço do acréscimo das exportações de bens e serviços deve-se à evolução da rubrica de “viagens e turismo”.

Não só pelo seu peso no tecido produtivo, mas também pela sua forte capacidade de arrastamento sobre outras atividades económicas e pelo papel que desempenha na coesão territorial do nosso país, o Turismo tem de ser visto como um vetor estruturante da nossa economia.

Beneficiamos, é certo, de dificuldades conjunturais de alguns concorrentes, mas tal não explica, só por si, que o Turismo esteja a viver um dos melhores períodos da sua história. Não haverá tantos destinos alternativos a concorrer pela preferência dos nossos potenciais clientes? Também neste setor, o bom desempenho que estamos a viver é, sobretudo, mérito das empresas.

Não obstante, como em tantos outros setores, há estrangulamentos a superar, riscos a acautelar (alguns deles fruto do seu próprio crescimento) e o desafio constante da resposta às novas tendências e exigências dos mercados.

Olhemos, então, para o Turismo com a atenção que merece, dada a sua importância para a vitalidade da economia nacional.

Mas não deixemos de nos inquietar pela dependência do crescimento económico face a um determinado setor, seja ele qual for, promovendo a competitividade e a atratividade da nossa economia na pluralidade das atividades que a integram.