É importante maximizar os benefícios que adviriam para Portugal da presença no nosso território de um novo polo de atração de inúmeras atividades ligadas à investigação científica, ao licenciamento, aos ensaios clínicos e a serviços de apoio às empresas. Mais do que os impactos diretos associados ao estabelecimento da sede da EMA em Portugal, esta é, afinal, a principal justificação para o claro apoio que os agentes económicos nacionais concedem à candidatura portuguesa.

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 29.06.2017

“A candidatura de Portugal para receber a sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA) tem sido alvo de intenso debate no nosso país. Infelizmente, este debate tem-se centrado nos argumentos políticos em torno da sua localização, desviando-se das questões de fundo que justificam e podem valorizar a candidatura portuguesa.

Embora se especule já sobre alegados acordos políticos de bastidores, não podemos esquecer que a decisão sobre a localização da EMA será aferida pelos critérios definidos pelo Conselho Europeu. Para aumentar as hipóteses de sucesso, a candidatura portuguesa terá, por isso, que responder a esses critérios.

Mas é igualmente importante maximizar os benefícios que adviriam para Portugal da presença no nosso território de um novo polo de atração de inúmeras atividades ligadas à investigação científica, ao licenciamento, aos ensaios clínicos e a serviços de apoio às empresas. Mais do que os impactos diretos associados ao estabelecimento da sede da EMA em Portugal, esta é, afinal, a principal justificação para o claro apoio que os agentes económicos nacionais concedem à candidatura portuguesa.

A questão que se coloca é, pois, a de potenciar o contributo desta agência para a densificação do cluster da saúde, nas suas vertentes económica e científica, sabendo que este constitui uma das fronteiras da inovação onde Portugal se tem afirmado.

Esse potencial depende da rede de entidades que existem já no terreno e da facilidade com que poderiam estabelecer novas relações entre si, com a EMA e com as atividades que seriam atraídas pela instalação da sua sede. É precisamente a intensificação dessas relações que potencia a capacidade de arrasto sobre a atividade económica da incerta, mas desejada, instalação da EMA em Portugal.

Idênticas considerações poderiam ser invocadas, de uma forma mais generalizada, relativamente a uma estratégia de atração de investimento direto estrangeiro para Portugal.

Se reconhecemos que a atração de investimento estrangeiro deve seguir uma lógica de inovação e acréscimo de valor para as empresas portuguesas, então deveria ser particularmente procurado e incentivado o investimento que traz consigo conhecimento, tecnologia, capacidade de investigação e desenvolvimento, e que seja passível de criar novas ligações e sinergias com a atividade científica e empresarial de que dispomos.

Tal estratégia contribuiria assim para avançarmos para clusters mais desenvolvidos e colocarmos as nossas competências científicas ao serviço da inovação dos nossos produtos e processos produtivos.

Temos já, recentemente, exemplos de investimentos de grandes empresas industriais de capital estrangeiro sedeadas no nosso país que mostram que esta lógica não é uma utopia.

Importa que seja inserida numa política de atração de uma nova vaga de investimento direto estrangeiro de raiz no nosso país.”