Do lado britânico, as notórias divergências no seio do governo, debilitado pelos resultados das últimas eleições, resultaram numa abordagem confusa.

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 29.07.2017

“A segunda ronda das negociações do Brexit terminou, na semana passada, sem um vislumbre de menor incerteza sobre o desfecho deste processo.

Do lado britânico, as notórias divergências no seio do governo, debilitado pelos resultados das últimas eleições, resultaram numa abordagem confusa.

A posição de inflexibilidade do lado dos 27, reforçada pela ameaça de veto por parte do Parlamento Europeu, também não facilita o entendimento.

Qualquer um dos temas da primeira fase destas negociações – direitos dos cidadãos, as obrigações financeiras do Reino Unido e a questão da fronteira irlandesa – adivinha-se difícil, o que fará adiar decisões diretamente mais relevantes do ponto de vista empresarial.

Tudo permanece em aberto. Nenhum cenário está fora de questão: desde o falhanço das negociações, com uma saída desordenada em 29 de março de 2019, até um recuo britânico, desistindo do Brexit, passando pelo arrastamento das negociações para além do prazo fixado.

É precisamente esta incerteza que está a minar a confiança económica, à medida que se vão tornando mais claros, sobretudo nos meios empresariais britânicos, a enorme complexidade e os potenciais custos do Brexit.
No Reino Unido, já há sinais de abrandamento da atividade económica e de alguma pressão inflacionista. E já se fala em casos concretos de deslocalização de empresas ou atividades.

Mas o problema não é apenas britânico.

Entre nós, é visível a tendência de desaceleração das exportações para o Reino Unido, que estão longe de acompanhar a dinâmica comum à generalidade dos mercados europeus.

Os dados mais recentes mostram mesmo uma redução homóloga das exportações portuguesas para o mercado britânico, no trimestre terminado em maio. Embora de pequena dimensão (0,4%), esta redução foi a única observada entre os 10 principais destinos das exportações portuguesas.

A esta tendência não será estranha a depreciação da libra esterlina (de 15%, desde o dia do referendo), mas também, não duvido, o clima de incerteza que se gerou e que se agrava à medida que o tempo passa.
Parece que o Brexit só está a funcionar bem enquanto elemento de dissuasão e para promover um maior sentido de comunidade na Europa continental.

É tempo dos políticos, de um lado e do outro do canal, prestarem atenção ao que se passa no terreno e darem algum sinal que reduza a incerteza dos agentes económicos.”