Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 10.11.2018

O cinismo e o desconforto com o funcionamento das instituições generalizaram-se e, um pouco por todo o mundo, os cidadãos encaram o futuro com um misto de desilusão e de medo. Estes sentimentos têm alimentado a ascensão de defensores de soluções extremistas e populistas.

Escrevi estas palavras, nesta coluna, há pouco mais de um mês.

Escrevi também que é neste tipo de soluções que residem os maiores riscos de novas crises, num mundo cada vez mais globalizado, onde decisões pontuais se repercutem rapidamente a nível mundial.

Lamentavelmente, estes riscos estão a tornar-se cada vez mais reais e ameaçadores.

Desde então, tivemos, no Brasil, mais um exemplo desta perigosa realidade.

Entretanto, abriu-se na Europa uma crise entre a Comissão Europeia e o Governo italiano, com consequências imprevisíveis para toda a Europa. Mais uma vez, na base desta crise, está a ascensão ao poder de defensores de soluções populistas. Soluções que, invariavelmente, dão origem ao isolamento e ao conflito, quando não a totalitarismos, sejam eles de que sinal forem.

É certo que temos também exemplos recentes de povos que continuam a mostrar relutância em se render a forças extremistas. Há países onde emergiram novos movimentos políticos que vieram preencher o vazio deixado por partidos desacreditados, afirmando os seus valores e as suas propostas sem cair em derivas populistas ou extremistas.

Em Portugal estamos, por enquanto, ao abrigo destas derivas. A nossa cultura e a nossa memória histórica tornam-nos, felizmente, avessos a extremismos ou aventureirismos. Mas entre nós estão bem patentes sinais de uma crise de confiança nas instituições. Assistimos a um aumento de preconceitos contra a classe política e de antagonismos face aos empresários, que se refletem em tiques populistas nalguns modos de fazer política.

Tudo isto representa uma enorme responsabilidade para quem se reclama moderado, na política e na sociedade em geral.

O combate eficaz ao populismo requer uma ação inteligente, responsável e corajosa por parte dos moderados.

Exige uma ação inteligente porque, se o populismo se alimenta da difusão de mensagens simplistas e da manipulação da realidade, então é preciso, pacientemente, desconstruir essas mensagens e denunciar a ficção. Não basta gritar contra o populismo, é preciso desmascará-lo, com pedagogia.

Exige uma ação responsável, porque deve apresentar soluções reais aos anseios dos cidadãos, não deixando aos promotores da demagogia e da irresponsabilidade o monopólio da promessa de um futuro melhor e mais próspero. Não basta gritar contra o populismo, é preciso contrapor-lhe uma alternativa credível.

Exige, finalmente, uma ação corajosa, porque, se os populistas são aclamados pela sua coragem na denúncia da corrupção, é preciso que os moderados afirmem igual coragem na defesa intransigente dos seus princípios e valores fundamentais, entre os quais, evidentemente, também está a integridade. Não basta gritar contra o populismo, é preciso afirmar, com convicção, frontalmente, sem cedências, os valores que ele despreza.