Como fazer convergir as perspetivas, ainda tão afastadas, do mundo da educação e do mundo empresarial?

 

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 16.12.2017

“Esta semana foi divulgado um extenso relatório do Conselho Nacional de Educação, que traça um retrato da evolução da educação em Portugal, com recurso a comparações internacionais, e aprofunda temáticas relevantes para a compreensão do sistema educativo.

Pela positiva, saliento neste relatório – Estado da Educação 2016 – as claras melhorias nas aprendizagens dos alunos portugueses, reveladas pelas avaliações internacionais, bem como a redução, nos últimos dez anos, de mais de um terço da população ativa sem nível de escolaridade ou com apenas o ensino básico.

Há, contudo, resultados que vêm confirmar a dimensão de problemas e deficiências que é preciso vencer. Destacaria dois indicadores particularmente preocupantes do ponto de vista empresarial.

O primeiro é a percentagem dos adultos portugueses que participam em ações de aprendizagem ao longo da vida: apenas 9,6%, 5,4 pontos percentuais abaixo da meta estabelecida pela estratégia Europa 2020.

Mais uma vez se comprova a necessidade de dar prioridade à formação profissional.

O segundo indicador diz respeito à empregabilidade: a percentagem da população portuguesa que, tendo concluído, pelo menos, o ensino secundário, encontra emprego no espaço de um a três anos não chega a 70%. Só três países da União Europeia apresentam piores resultados.

Além disso, de acordo com este relatório, “a formação técnica parece ser ainda pouco popular” em Portugal, e só atrai alunos com desempenhos muito inferiores à média.

Dadas as carências de mão-de-obra especializada com que muitas empresas se defrontam, designadamente no domínio industrial, estes dados deveriam fazer-nos refletir sobre a adequação da formação inicial às necessidades das empresas.

A este respeito, podemos ler, num dos contributos da investigação em educação que constam deste relatório, que “quando as empresas e organizações pedem à escola que lhes envie graduados com um leque alargado de saberes, competências, comportamentos e atitudes, a escola responde defendendo disciplinas e conteúdos que raramente garantem, na prática, o que o graduado irá fazer e com que comportamentos e atitudes o fará”.

Na introdução a este relatório, a Presidente do Conselho Nacional de Educação aponta, entre as áreas que exigirão mais atenção e estudo, a aprendizagem ao longo da vida e as consequências dos desenvolvimentos tecnológicos.

Áreas fundamentais, sem dúvida alguma. Mas seria bom, no futuro, uma atenção redobrada sobre questões de fundo que este relatório quase parece esquecer: como fazer convergir as perspetivas, ainda tão afastadas, do mundo da educação e do mundo empresarial? Como adequar as respostas do sistema educativo às necessidades da sociedade e do mercado do trabalho?”