Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 12.10.2019

https://www.dinheirovivo.pt/opiniao/e-tempo-de-estabilidade-e-reformas/

Após um longo período eleitoral, que ocupou boa parte do ano, é tempo de reformas.
O quadro parlamentar que resulta das eleições de 6 de outubro permite ao próximo Governo condições de estabilidade política nos próximos quatro anos. Estou certo de que, independentemente do desfecho das negociações em curso, será agora mais fácil encontrar maiorias parlamentares de geometria variável que viabilizem as reformas de que o país carece.
Conto, para tal, com a responsabilidade de todas as forças políticas, conscientes que estão dos grandes desafios que irão condicionar o futuro de Portugal nos próximos anos.
Já aqui os identifiquei: transformação digital e tecnológica, a demografia, os mercados globais, o endividamento, a sustentabilidade ambiental. Todos estes desafios estão profundamente relacionados com a produtividade das empresas, seja oferecendo oportunidades que, se corretamente exploradas, potenciarão a sua evolução, seja como condição para que sejam enfrentados com sucesso.
A presente situação económica na Europa, o perigo de um Brexit desordenado, o aumento das tensões comerciais e geopolíticas, são fatores externos adversos que, em grande medida, escapam ao nosso controlo. Mas esse não é motivo para continuar a adiar as reformas que, internamente, podemos e devemos pôr em prática. Reformas para colocar as empresas a gerar mais rendimentos, com mais produtividade.
Precisamos, de facto, de reformas que combatam os problemas que sucessivos governos não têm conseguido resolver: uma fiscalidade opressiva e instável; um sistema financeiro que não cumpre cabalmente a sua função de intermediação entre poupança e investimento; uma justiça lenta e ineficaz; custos de contexto alimentados por uma burocracia asfixiante; uma cultura de inovação pouco incentivada.
Para tal, o próximo Governo deverá envolver não só os partidos políticos, mas também a sociedade civil organizada, onde se inclui o movimento associativo empresarial.
Assistimos, nestas eleições, a um novo aumento da abstenção e à emergência (ou crescimento) de novos partidos políticos que designaria como “temáticos”, alguns deles com propostas radicais em certos domínios, mas sem uma visão global da realidade socioeconómica do país. Estes são, na minha opinião, sinais de que os partidos políticos ditos tradicionais e moderados estão a deixar de ser o motor da sociedade.
Para se revitalizarem e reconquistarem o seu protagonismo é preciso que, quer estejam no poder ou na oposição, se abram ao diálogo e ao contributo de uma sociedade civil ativa e plural e ponham o país acima dos seus interesses e questiúnculas internas.
O facto de o Primeiro Ministro indigitado ter recebido, esta semana, os parceiros sociais, para ouvir a sua opinião sobre a próxima legislatura é, a meu ver, um bom prenúncio que espero se venha a confirmar ao longo dos próximos quatro anos.