Procuremos soluções para os grandes desequilíbrios que afetam a nossa economia, mas não deixemos de olhar para o dia-a-dia das empresas.

 

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 01.04.2017

“Depois da confirmação do valor de 2,1% do défice público em 2017, tivemos, esta semana, novos sinais positivos para a economia portuguesa.

As taxas de juro da dívida pública estão, finalmente, a corrigir em baixa, com a rentabilidade implícita nas obrigações a dez anos já abaixo dos 4%, num contexto mais favorável à perceção de risco do país.

O Banco de Portugal reviu em alta as suas projeções de crescimento para 2017 para 1,8%, sendo esta evolução sustentada num forte dinamismo das exportações – com ganhos de quota de mercado – e do investimento empresarial.

Esta é a prova de que são as empresas que estão a puxar pela economia.

Contudo, não podemos ficar tranquilos com estes resultados. Sobretudo porque, ao contrário do que seria desejável, as projeções apontam para o abrandamento do crescimento em 2018 e 2019.

Os problemas e os bloqueios com que a economia nacional se defronta – nomeadamente o desemprego e o endividamento, público e privado – só poderão ser ultrapassados quando regressarmos à rota da convergência real com os nossos parceiros da União Europeia. Ora, o ritmo de crescimento económico projetado é, ainda, inferior ao necessário para reiniciar o processo de convergência.

São apontadas duas condições para um maior crescimento: aprofundar a orientação de recursos para empresas mais expostas à concorrência internacional e mais produtivas, e continuar o processo de redução do elevado nível de endividamento dos vários setores.

Acrescentaria uma outra condição: a remoção das inúmeras “pedras na engrenagem” que continuam a bloquear o funcionamento das empresas e a sua competitividade.

Tivemos, recentemente, mais um exemplo destas “pedras”. Refiro-me ao processo de reformulação do sistema de gestão de embalagens e resíduos de embalagem.

Surpreendentemente, no final de um processo que se arrasta desde 2010, as empresas que colocam produtos embalados no mercado viram fixado o dia 31 de março de 2017 como data limite para assinar um contrato com uma de duas entidades gestoras, sem que estejam ainda definidos os valores a pagar.

Tudo indicava, portanto, que, sob pena de sanções, as empresas estavam a ser forçadas a escolher entre duas ofertas não diferenciadas e incompletas, e a assinar contratos na ignorância do que viriam a ter de pagar.

Felizmente, e resultado da intervenção que desenvolvemos na CIP, à última hora imperou o bom senso e o prazo foi prorrogado por um mês.

Procuremos soluções para os grandes desequilíbrios que afetam a nossa economia, mas não deixemos de olhar para o dia-a-dia das empresas e para as pequenas ou grandes “pedras na engrenagem” que, cumulativamente, são provavelmente o principal constrangimento a um desenvolvimento sólido e sustentado do nosso país.”