No passado dia 27 de dezembro, durante o encerramento do 8º Fórum Anual dos Graduados Portugueses no Estrangeiro, realizado em Coimbra, Augusto Santos Silva, na sua qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmou categoricamente que “um dos problemas das empresas portuguesas é a sua fraquíssima qualidade de gestão”. “Podemos esperar sentados [se se supõe que o atual tecido empresarial português] é capaz de, por si só, perceber a vantagem em trazer inovação para o seu seio e a vantagem em contratar pós-graduados e doutorados”.

Se a compaixão com que brindou a capacidade dos empresários portugueses em período natalício já não era pouca, mais advogou que grande parte da solução para a conquista da inovação passava pela necessidade de o país atrair mais investimento estrangeiro.

Como todos sabemos, cabe ao ministro dos Negócios Estrangeiros formular, promover e executar a política externa nacional onde, entre outras atribuições, se inscreve a promoção da economia e das empresas portuguesas, a promoção das exportações nacionais, o contributo para o crescimento da economia lusa.

Ficámos assim a saber qual a imagem que um dos mais importantes elementos do Governo tem das empresas e empresários nacionais.

A perceção confessada diz muito da forma como cumpre no exterior a missão que o país lhe confiou. Promover o investimento externo no país e denegrir injustamente a imagem de empresários e empresas portuguesas não me parece ser exatamente aquilo que se entende como a nobre missão de defesa do interesse nacional.

Posso começar por relembrar que o crescimento da economia verificado nos últimos anos, e que tanto tem dignificado o país a nível das instituições europeias e mundiais, se deve em grande medida ao esforço e à adaptação operada pelas empresas e empresários portugueses; recordar que os extraordinários números alcançados no combate ao desemprego foram atingidos no setor privado e não no público, à custa do investimento e coragem de empresas e empresários nacionais; poderia ainda acabar recordado que o acréscimo verificado nas exportações nacionais se deve à qualidade e à inovação operada em muitos setores do empresariado português; poderia seguir por aqui, numa interminável lista de feitos e exemplos de empresas e empresários nacionais, sobretudo dos mais jovens e nas áreas mais tecnológicas, mas tudo isto é do conhecimento público e não deveria valer a pena relembrar o senhor ministro.

É de tal modo insofismável a verdade dos fatos que comprovam que o milagre económico do país se deve essencialmente às empresas e aos empresários portugueses, esse mesmo milagre de que o Governo que Augusto Santos Silva faz parte tanto gosta de se gabar, aqui e além-mar, que as afirmações proferidas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros só podem ser entendidas por terem sido ditas por alguém que, vivendo fechado em ambientes palacianos, há muito que não sai à rua para ver como o mundo lá fora gira e avança.

Naturalmente que os empresários e as empresas são os primeiros a reconhecer que têm que continuar a fazer mais pela incorporação de inovação, qualidade e formação dos seus quadros e que o investimento externo constitui uma ajuda. Ainda recentemente, a CIP lançou um estudo sobre o imperativo da requalificação em Portugal, como forma de incorporar novas valências de formação, sobretudo, tecnológicas, nos nossos trabalhadores. Sobre isso estamos todos de acordo.

Não podemos é consentir que aquele que maiores responsabilidades tem na promoção e defesa dos interesses de Portugal seja aquele que mais destrata as empresas e empresários que arrancaram, com o povo português, o Estado da falência em que a fraquíssima administração política de sucessivos governos nos deixaram…. alguns de que o próprio Augusto Santo Silva fez parte.

Não quero acreditar que estas afirmações resultem de um sectarismo ideológico incapaz de reconhecer méritos e competências à iniciativa privada, nem tão pouco que sejam consequência da situação política que deixa um governo refém de partidos estatizantes e anti iniciativa privada. Prefiro antes acreditar que o senhor ministro há muito que não visita as empresas que todos os dias promovem o milagre económico do país, que ele representa, e que tantos louvores tem recebido, por isso, no mundo.

António Saraiva