Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 25.11.2018

https://www.dinheirovivo.pt/opiniao/como-travar-a-corrida-para-o-precipicio/

Tudo indica que neste dia de 25 de novembro serão aprovados, numa Cimeira Extraordinária, o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia e a declaração política sobre a futura relação entre as duas partes.

Concluídos os ajustamentos finais nesta declaração, restará ainda resolver, na cimeira de amanhã, a questão de Gibraltar, o que parece agora, depois do entendimento entre Londres e Madrid, tarefa relativamente fácil.

Quanto ao acordo de saída propriamente dito, respeita o que sempre defendi: estabelece um período transitório em que o Reino Unido se manterá na união aduaneira e no mercado único, com todos os direitos e obrigações daí decorrentes, até que seja acordado um novo tipo de relacionamento. As empresas disporão, assim, de um período em que se poderão preparar, durante o qual, não sentirão, na prática, os efeitos do Brexit.

A declaração política baliza, de forma ainda algo imprecisa, o que será o futuro acordo de comércio livre entre o Reino Unido e a União Europeia. Não será, certamente, o tipo de enquadramento ideal do ponto de vista da manutenção de trocas comerciais sem fricções, como o que agora vigora. Os custos de contexto no relacionamento económico com o Reino Unido serão mais elevados, não tenhamos ilusões. Diria, no entanto, que se chegou, neste momento, ao compromisso possível, que consegue conciliar o que, há não muito tempo, parecia irreconciliável.

A grande questão que se levanta agora é que estes frágeis compromissos se arriscam a cair por terra com a sua (provável) rejeição por parte do Parlamento britânico.

Voltaria, assim, a estar iminente o cenário que, do ponto de vista das empresas, não é aceitável: uma saída desordenada, sem acordo. Não haverá planos de contingência que evitem os enormes custos que se anteveem. Custos que só uma pequena minoria, do lado britânico, parece disposta a pagar.

Para o evitar, a única solução possível será o adiamento da data de saída, até que o Reino Unido consiga clarificar a sua posição. Acredito que será possível alcançar a unanimidade que o Tratado da União Europeia exige. Seria incompreensível que um prazo legal impedisse a travagem de uma corrida para o precipício.

Do ponto de vista das empresas, este adiamento corresponderia a prolongar a incerteza que continua a pesar sobre elas, sendo, portanto, essencial que fosse, à partida, limitado no tempo. Mas, para todos os efeitos, a incerteza será certamente melhor do que a certeza da concretização do pior cenário: um cenário que não podemos, simplesmente, admitir.