Há tanto para fazer em Portugal que não faz sentido criar novas estruturas públicas para fazer o que já era bem feito pelos privados.

Leia aqui o artigo de opinião desta semana assinado por António Saraiva na sua coluna semanal do Dinheiro Vivo, ao sábado.
Publicado no Dinheiro Vivo, edição de 13.05.2017

“Quando olhamos para as sociedades e economias mais desenvolvidas e para as suas instituições políticas e sociais, constatamos que estas são, de um modo geral, as que melhor valorizam e integram a empresa privada e as suas estruturas empresariais.

É neste âmbito que gostaria de chamar a atenção para o papel insubstituível das associações empresariais no que diz respeito à promoção da competitividade e da internacionalização, da qualificação do tecido empresarial e do desenvolvimento do capital humano. Trata-se de um papel fundamental, tanto a nível nacional como no quadro das políticas mais focalizadas no desenvolvimento regional.

A relação de proximidade e confiança que estas associações têm com as empresas que representam e o profundo conhecimento que tem das suas fragilidades e necessidades, mas também dos seus pontos fortes e competências, permite-lhes perceber e atuar rápida e eficazmente no apoio à sua competitividade.

O Estado, tanto ao nível central como ao nível local, deve promover as já vastas competências desenvolvidas pela iniciativa privada e pelo associativismo empresarial.

É preciso potenciar investimentos feitos e competências adquiridas ao longos das últimas décadas e não criar estruturas paralelas.

Há tanto para fazer em Portugal e nas suas regiões, que não faz sentido criar novas estruturas públicas para fazer o que já era bem feito pelo setor privado, nas associações.

É preciso, sim, cooperar para fazer mais e melhor!

Esta desejável articulação de competências, baseada no princípio da subsidiariedade e na cooperação saudável entre agentes públicos e privados, conflitua frequentemente com a persistente herança de um poder político abafador da iniciativa da sociedade civil.

Recentemente, um domínio em que é visível este conflito é o da atuação das autarquias e comunidades intermunicipais, que, ao invés de cooperar, competem, de modo pouco saudável, com as associações empresariais na sua esfera de atuação, nomeadamente em ações dirigidas à internacionalização e à formação profissional, estreitando a margem para desempenharem plenamente as suas funções.

Estas entidades públicas têm, certamente, um papel importante no desenvolvimento da competitividade dos seus territórios, na redução da burocracia, na criação de condições de atração de investimento, mas nunca poderão substituir as empresas e as associações que as representam ao nível regional.

Sou favorável à descentralização, pois acredito que a proximidade é um fator de eficiência. Mas a descentralização não pode ser revertida em “centralização” no poder autárquico.

Quando o Estado atua como catalisador positivo das energias da sociedade civil, os cidadãos e as suas organizações tornam-se muito mais ativos na promoção do seu próprio bem-estar.

Esforcemo-nos, pois, por criar um clima de confiança e exigência entre o Governo e a administração e as associações empresariais, através de modelos de contratualização e delegação de competências no seu âmbito de atuação.

Os nossos objetivos são comuns, exigindo por isso coordenação na ação, partilha de recursos e procura de sinergias.”